
O que têm Michael Jackson, Madonna e Mark Knopfler em comum para além de um lugar na História da Música e os arcos góticos da letra ‘M’ a adornar o início dos seus nomes? A verdade é que um dia todos tiveram como colaborador um tal de David Fincher, na altura em que a carreira deste consistia principalmente de dirigir videoclips, entre os quais se encontra o famoso “Vogue” da supracitada Madonna. Desde esse período o realizador conseguiu dar o salto para as longas metragens e cerca de 20 anos depois tem um lugar mais que assegurado no círculo de autores mais conceituados da actualidade. Na semana em que estreia o seu mais recente filme Gone Girl em terras lusitanas, assinalamos a ocasião com um breve olhar sobre a sua carreira onde colocamos os seus filmes por ordem de preferência.

9. The Game (1997)
Naquele que é provavelmente o momento na filmografia do realizador em que ele mais se aproxima de um filme de Hitchcock surge também a ovelha negra do grupo. O carácter da obsessiva personagem de Michael Douglas espelha perfeitamente a prisão inquietante do enredo mas essa noção mantem-se letargicamente contida em si própria do começo ao fim. O campo visual extremamente carregado insiste na promessa de um thriller absorvente que o guião não consegue cumprir, com o desenlace a ser o derradeiro murro no estômago no que toca a concluir tramas vazias que enrolam demasiado.

8. The Curious Case of Benjamin Button (2008)
O épico de uma vida com uma mecânica bastante peculiar reúne Fincher com Brad Pitt pela terceira vez para contar a história de um homem que envelhece em sentido inverso ao normal. A decisão de a estender ao longo que quase 3 horas seria válida não estivesse este pedaço de oscar bait praticamente isento de conteúdo de nota para as preencher.

7. Alien 3 (1992)
Poucas estreias poderão ser tão intimidantes como Alien 3 o foi no início dos anos 90. Tomar o seu controlo implicava também assumir a tarefa titânica de a) continuar um dos franchises mais icónicos de sempre e b) seguir um dos gigantes do género e da indústria, James Cameron. Embora não seja um desastre completo, é clara a presença de um filme melhor que tenta sair do ecrã mas que alguém suprimiu. Fincher foi dos primeiros a criticar todo o projecto e até hoje não o considera como um título realmente seu, apontando o dedo à interferência do estúdio.

6. Panic Room (2002)
Com um leve toque de ironia à mistura, Fight Club, um filme com uma faceta anti-conformidade bem decalcada, é sucedido pelo bem mais comercial Panic Room onde violência e linguagem, entre outros elementos, são dispendidas de forma bem mais gratuita. Jodie Foster e uma bastante andrógina e jovem Kristen Stewart vêm-se a braços com um assalto à sua nova casa e passam boa parte dele presas na única divisão em que os criminosos estão interessados. O conteúdo não é o mais profundo ou imaginativo mas isso também não é algo que se proponha a oferecer, levando-o a um pequeno triunfo na sua mediocridade.

5. Se7en (1995)
Tenebroso, doentio e nauseante, Se7en cimentou a reputação de Fincher como autor apegado ao lado mais melancólico do Mundo. Pegou num Brad Pitt conhecido principalmente como “menino bonito” e legitimou-o como actor, juntando-o a Morgan Freeman e à sua raia de sucessos da primeira metade dos anos 90. Não obstante a escolha de protagonistas um pouco bizarra, o filme é imperdoável na hora de mostrar o que até lá não era mostrado num thriller, sendo a escolha de como e quando o fazer crucial para a construção da atmosfera arrepiante desta caça ao homem. E ninguém pode tirar o mérito a Kevin Spacey, um actor tão brilhante que no espaço de um ano deu vida não a um mas dois dos lunáticos mais enigmáticos e aclamados do Cinema dos últimos 20 anos.

4. Zodiac (2007)
12 anos depois da entrada acima, chegou a hora do realizador voltar a casa dos serial killers por outra porta. Revelando uma maior maturidade como contador de histórias e arquitecto visual, o relato baseado em acontecimentos verídicos é mais relaxado, trocando imagens grotescas por uma exposição mais lenta da história onde o poder de sugestão é constantemente utilizado para deixar o espectador construir a sua própria versão de terror na sua cabeça. O peso da sua duração é sentido em certos pontos mas, no geral, Zodiac é uma experiência superior ao seu “irmão” mais velho de 1995.

3. The Girl With the Dragon Tattoo (2011)
Um dos grandes fenómenos do ínicio do século XXI no panorama literário foi a trilogia Millenium de Stieg Larsson e em 2011 Hollywood decidiu juntar-se à festa. Precedido por uma criticamente aclamada trilogia cinematográfica originária do seu país de origem, a Suécia, o remake americano viu-se rodeado pela mesma onda de negativismo que é lançada sobre toda e qualquer adaptação de material estrangeiro. Felizmente este não era um dos 95% dos casos que justifica esse ponto de vista e o cepticismo transformou-se em cinza. The Girl With the Dragon Tattoo é outro daqueles projectos como Panic Room para Fincher onde este pode descansar e deixar outros componentes tomar as rédeas, sendo aqui o guião de Steven Zaillian e a performance de Rooney Mara condutores mais que capazes.

2. The Social Network (2010)
Tal como Se7en este filme representa outro ponto marcante na carreira do realizador, que deu a provar que nem só de filmes de teor violento vive o Homem. Carregado em parte pela teia de palavras de Aaron Sorkin, The Social Network é mais que um filme sobre o antes, durante e depois da criação da rede social Facebook e do seu titereiro Mark Zuckerberg. É uma obra que transcende a Biografia e explora temáticas bem terrenas como camaradagem, alheamento social, traição e ainda o neo-corporativismo assentado na juventude com cada vez maior e melhor conhecimento. The Social Network caminha para a imortalidade do reconhecimento como um dos marcos culturais dos nossos dias.

1. Fight Club (1999)
Curiosamente os dois filmes que ocupam a Prata e o Ouro desta lista debruçam-se sobre duas gerações distintas mas cujas psiques possuem numerosos traços paralelos. Do glamour do campus da Universidade para as ruas e becos sujos da cidade encontramos o mundo deprimente de um colarinho branco sem nome cuja insatisfação com o seu trabalho e a sua vida o faz querer mais. O delicioso pote de ardis que é Fight Club pode ter sido uma venda difícil no final dos anos 90 mas desde então que merece o reconhecimento que certos sectores rejeitam dar-lhe por causa do seu exterior puro e duro à volta de um misterioso grupo de homens que se junta num ritual de violência de rua. Na verdade Fight Club é uma das mais brilhantes sátiras dos últimos tempos (quiçá de sempre) que junta o humor e o drama com a mensagem e o deboche numa mistura irresistível de dissabor que roça a perfeição. Não faz nenhum mal também ter-se três dos melhores actores a sair do mainstream dos anos 90 a ocupar os três principais papéis como se fossem uma segunda pele.